Direito

Preso por tráfico de armas é solto com alvará falso no Rio de Janeiro



Apontado pela Polícia Federal (PF) como um dos maiores traficantes de armas do mundo deixou a cadeia no Rio de Janeiro pela porta da frente - e por meio de uma fraude. João Filipe Barbieri, 31 anos, enteado de Frederick Barbieri - considerado o "Senhor das Armas" e que está preso nos Estados Unidos -, fez uso de um alvará de soltura falso para deixar a penitenciária de Bangu, onde estava preso desde 2017, condenado a 27 anos de prisão por associação para o tráfico e tráfico internacional de armas. João Felipe foi preso, na época, em um condomínio de luxo de Rio Preto em operação coordenada pela PF.

João Filipe é acusado pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF/RJ) de ser um dos gerentes da quadrilha internacional de tráfico de armas que era liderada por Frederick, que vendeu pelo menos 1.043 fuzis e 297 mil munições com carregadores no período de dois anos, entre 2014 e 2017. As armas eram compradas nos Estados Unidos por cerca de 3,5 mil dólares, trazidas para o Brasil ocultas em aquecedores de piscina e vendidas por até R$ 57 mil. Cada carregamento, em grande parte para abstecer facções cariocas como o Comando Vermelho, rendia à quadrilha cerca de R$ 1,2 milhão.

O MPF/RJ denunciou, naquela ocasião, João Filipe e outras 15 pessoas envolvidas em tráfico internacional de armas. Ao longo de três anos, os acusados importaram 75 vezes armamentos em desacordo com as exigências legais.

Conforme informou primeiro o portal G1-RJ nesta terça-feira, 9, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) confirmou a saída de João Barbieri da prisão em 18 de novembro de 2020, mas não mostrou a decisão judicial que possibilitou que ele deixasse a cadeia apenas três anos depois de começar a cumprir a pena.

A denúncia da saída de Barbieri chegou ao desembargador Marcelo Granado, relator do caso na Justiça Federal. No mês passado, ele pediu explicações à Seap sobre a situação penal de João Filipe Barbieri e outro preso - João Victor Rosa.

Na semana passada, a Seap respondeu à Justiça confirmando a saída dos dois. Segundo um ofício da Justiça, João Barbieri teve prisão revogada no dia 18 de novembro e João Victor Rosa recebeu um alvará de soltura no dia 14 de outubro. João Filipe teria sido liberado por uma decisão interlocutória, ou seja, "de boca".

Na segunda-feira, 8, a Seap enviou um novo ofício à Justiça federal reafirmando que João Filipe Barbieri e João Rosa estão libertados. A secretaria incluiu os números dos alvarás de soltura, mas não anexou os documentos. A secretaria afirmou apenas que os alvarás foram concedidos pela 8ª Vara Federal Criminal.

Na tarde desta terça, 9, a Justiça Federal confirmou que não deu nenhuma decisão para soltar Barbieri e que o alvará de soltura é falso. O desembargador Marcelo Granado, relator do caso na Justiça federal, afirmou que irá cobrar explicações do Ministério Público e da Seap.

O desembargador federal ordenou o cumprimento imediato das prisões de João Filipe Cordeiro Barbieri e João Victor Silva Roza.

'Senhor das Armas'

O padrasto de João Filipe, Frederik Barbieri, apontado como o maior traficante de armas para o Brasil, foi preso pelo Serviço de Imigração e Alfândegas na madrugada do dia 24 de fevereiro de 2018, na Flórida, Estados Unidos, onde ele havia se radicado.

Conforme a Procuradoria da República, nas declarações de importações constavam aquecedores e bombas d'água, mas na verdade chegavam ao Brasil carcaças dos produtos declarados "recheadas" de armas de fogo, acessórios e munições de uso restrito.

Frederik Barbieri seria responsável pelo envio de 60 fuzis, avaliados em R$ 4,2 milhões, que foram apreendidos no aeroporto do Galeão, no Rio, em 1º de junho de 2017, naquela que é considerada a maior apreensão no País, pelo menos desde 2007.

A carga estava escondida em um contêiner, dentro de aquecedores de piscina com fundo falso - cada aquecedor guardava cerca de oito fuzis. Ao todo havia três modelos dessas armas: 45 eram AK-47; 14, AR-10; e um, G-3. O fuzil AK-47 é o preferido pelos criminosos porque não exige manutenção e é mais resistente. Já o AR-10 é mais moderno e equipa agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope).

Em junho de 2018, 45 armas do modelo AK-47 e 15 do modelo AR-10, ambas com calibre 7,62 milímetros, apreendidos em encomenda de Frederik, foram doados pelo Gabinete de Intervenção Federal à Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Em julho de 2018, Frederik Barbieri, de 51 anos, foi condenado pela Justiça americana a 12 anos e oito meses de prisão por tráfico internacional de armas. A decisão foi de um Tribunal Federal de Miami, no estado americano da Flórida.

 


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