Polícia

Participação de menores em disputa de gangues preocupa Pelarin



O juiz da Vara da Infância e da Juventude de Rio Preto, Evandro Pelarin, afirma que pediu para a Polícia Civil um relatório sobre o envolvimento de menores de 18 anos na guerra das gangues em Rio Preto para adotar medidas como internação dos envolvidos na Fundação Casa.

"A Vara da Infância e da Juventude já pediu um relatório mais robusto sobre esse tema à Polícia Civil, que identificou muito mais adolescentes vítimas do que autores de homicídios. Os que foram descobertos, e contra os quais o Ministério Público apresentou provas, foram responsabilizados e hoje cumprem medida de internação na Fundação Casa", diz o magistrado.

Para Pelarin, a onda de homicídios e a rivalidade entre bairros refletem uma disputa por território de distribuição de drogas. "O tráfico ainda é uma modalidade de crime dependente da conquista de território. Os adolescentes, aqueles envolvidos nesse crime, são arrastados para esse conflito porque atuam, quer a mando de alguém geralmente maior de idade, quer até mesmo por conta própria, para ganhar espaço e pontos de distribuição de drogas", afirma o juiz.

Com base em sua experiência com adolescentes infratores, Pelarin diz que a violência extrema como meio para eliminação do concorrente, no caso a morte do opositor e consequente vingança na mesma moeda, só faz gerar mais violência, pois essa espiral não tem fim.

"A Vara da Infância e da Juventude tenta com as ações legais interromper esse ciclo de violência, pois afasta do meio os adolescentes autores de homicídio que serão futuras vítimas, caso permaneçam nas ruas", afirma.

O comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar, coronel Paulo Sérgio Martins, afirma que a corporação tem identificado os menores com envolvimento no crime e enviado a lista para Vara da Infância e da Juventude de Rio Preto, com recomendação de internação.

"O que a gente tem feito é encaminhar ao Ministério Público, para que seja solicitado à Vara da Infância e da Juventude a internação na Fundação Casa, logo que identificamos os adolescentes em envolvimento com atos infracionais por tráfico. Pode até ficarem apenas três meses, mas neste tempo ficam fora de circulação e de contato com o crime", diz o coronel.

Paulo Sérgio afirma que chegou a receber no Batalhão a visita de mães que, sem ter como evitarem o envolvimento dos filhos com o tráfico, pedem ajuda para que sejam enviados para a Fundação Casa.

Influências

Tênis Nike Air Zoom, um sonho de consumo de muitos jovens da periferia de Rio Preto, porque é usado por cantores de funk. Ele custa R$ 719, valor correspondente à quase um mês de salário no primeiro emprego. Com o tráfico de drogas, o infrator consegue obter o valor em uma semana com a venda de entorpecentes.

Para a mestre em sociologia Roseli de Oliveira, esta é a principal razão pela qual muitos jovens sentem-se muito atraídos a entrar no mundo do crime e a não saírem, mesmo após sucessivas passagens policiais e internações na Fundação Casa.

"O garoto escuta músicas pop de ostentação, em que o cantor fala de ter carro, celular e tênis mais caro, isso motiva estes jovens sem oportunidade de emprego, com pais desempregados pela pandemia, a buscar no tráfico de drogas o dinheiro para aumentar sua autoestima", diz a pesquisadora.

Para Roseli, a culpa por esta situação não pode ser jogada nas costas dos pais, mas sim dos governos, que deixam de apresentar projetos destinados à juventude.

"Não dá para cobrar nada de um jovem que sequer tem dinheiro para colocar créditos no celular para ter acesso às aulas online durante a pandemia. É preciso rever o conteúdo pedagógico, que seja mais atraente para estimular o estudo e levar em conta a realidade do jovem. Tem que estimular a criação de vagas no mercado de trabalho, mas, antes de mais nada, fazer a capacitação deles, principalmente em informática, para que ele tenha chance de bons empregos", diz a socióloga.

Roseli afirma que o círculo vicioso da participação dos jovens no tráfico de drogas só vai ser interrompido quando prefeituras, escolas e iniciativa privada se unirem para criação de um projeto completo direcionado para adolescentes e suas famílias.

A pesquisadora defende a criação nos bairros de espaços culturais para ofertar cursos e eventos culturais gratuitos para os jovens, para não deixá-los só a mercê do conteúdo que recebem das redes sociais.

 

Fonte: Diário da Região


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