Os atos que ocorreram ao longo deste domingo, 12, em defesa do impeachment do presidente Jair Bolsonaro foram marcados por baixa adesão do público. Organizados pelos grupos de centro-direita Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua (VPR) e Livres, os protestos falharam em atrair grandes setores da esquerda, mesmo depois de os organizadores abdicarem do mote “nem Bolsonaro, nem Lula” para facilitar a adesão da oposição.
O maior ato, como esperado, foi o da Avenida Paulista, em São Paulo. Por volta das 14h, os primeiros manifestantes do movimento começaram a se concentrar nos arredores do Museu de Arte de São Paulo (Masp). De acordo com estimativa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), cerca de 6 mil pessoas compareceram ao evento neste domingo. Um número muito menor se comparado aos estimados 125 mil apoiadores de Bolsonaro que se reuniram para apoiar o presidente na mesma via no último dia 7 de setembro.
A manifestação contou com a participação de presidenciáveis que buscam representar a chamada “terceira via” nas eleições de 2022: o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM), os senadores Alessandro Vieira (Cidadania) e Simone Tebet (MDB).
"Nós somos diferentes, temos caminhadas diferentes, temos olhares sobre o futuro do Brasil diferentes", disse Ciro em um palanque montado pelo MBL. "Mas o que nos reúne é o que deve unir toda sociedade civicamente sadia, é a ameaça da morte da democracia e do poder da nação brasileira."
Já Doria defendeu a formação de uma ampla frente democrática no próximo pleito — uma que tenha, inclusive, o PT, o principal partido da oposição e que não aderiu aos atos deste domingo. "Temos que estar juntos e formar uma grande frente democrática", disse o tucano.
A fala do governador paulista foi a mais longa do evento, com cerca de sete minutos. Doria se apresentou ao público como um dos "organizadores" do comício pelas Diretas Já na Praça da Sé em 1984 e disse que "quem defende a vida" deve ser contra o presidente Jair Bolsonaro. "Todo começo tem dificuldades. Isto aqui é um começo", afirmou ele.
Em Brasília, o ato esvaziado, que reuniu algumas poucas centenas de pessoas ao longo da tarde na Esplanada dos Ministérios, terminou por volta das 17h. A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) chegou a montar um esquema de reforço à segurança na Esplanada, pois a manifestação convocada pelos movimentos de oposição ocorreu poucas horas depois de atos que seriam realizados a favor de Bolsonaro — também esvaziados.
Racha na oposição
Os movimentos de centro-direita que organizaram os atos deste domingo ganharam projeção em 2016, durante a campanha pelo impedimento de Dilma Rousseff. Foi o primeiro evento pró-impeachment de Bolsonaro encabeçado por estes grupos.
O MBL e o Vem Pra Rua convocaram os atos em julho sob o mote “Nem Bolsonaro, nem Lula”, o que acabou por espantar grupos da esquerda. Depois, a organização optou por focar os protestos apenas no impeachment de Bolsonaro, mas era tarde. O PDT declarou apoio ao ato e foi um dos poucos partidos da oposição que compareceram em peso aos protestos, mas os movimentos não tiveram adesão formal de outras das principais siglas de esquerda, como o PT e o PSOL.
Os dois partidos frisaram que não convocariam apoiadores para os atos deste domingo. Em nota, o PT acrescentou que definiu como datas de referência para a realização de manifestações nacionais os dias 2 de outubro e 15 de novembro. As diretrizes, contudo, não impediram a participação de representantes da esquerda. Em São Paulo, a deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP) esteve presente na Avenida Paulista e disse que o momento é de "furar bolhas". "Acho que a esquerda toda deveria estar aqui. Este ato tem o tamanho da média dos atos da esquerda. Então, se a gente somasse, iria dobrar", afirmou. "Estou aqui para representar aqueles que querem construir algo unitário desde o começo", continuou.