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Morte de cantor sertanejo Henrique, da dupla com Netto, completa um ano



Há exatamente um ano, um acidente calou a voz de um sertanejo que começava a despontar para o sucesso. O sonho de ter o trabalho reconhecido no país acabou na avenida Navarro de Andrade, em Santa Fé do Sul (SP), quando o músico Henrique bateu o carro na traseira de uma caminhonete.

Com o impacto da colisão, o jovem foi retirado às pressas do veículo, que pegou fogo e ficou totalmente destruído. Ele foi socorrido e encaminhado para o Hospital de Base de São José do Rio Preto (SP), onde morreu em 2 de março, exatamente 22 dias depois da colisão.

Henrique tinha apenas 22 anos, fazia dupla com Netto e dois meses antes da morte havia lançado o clipe da música "Forçar a Barra", que teve mais de 3 milhões de visualizações no Youtube.

Nesta terça-feira (2), data em que a morte do cantor completa um ano, a reportagem conversou com a mãe, o pai e o ex-companheiro de palco de Henrique. Os três falaram sobre o trágico acidente e os sonhos interrompidos do cantor, cujo nome de batismo era Wesley Pereira da Silva.

Melhor momento
No começo de 2020, após quatro anos batalhando e se dedicando à música, Netto e Henrique tinham alcançado a melhor fase da carreira. Os sertanejos haviam lançado o primeiro volume do DVD em um grande escritório, começaram a tocar nas rádios e atingiram milhões de visualizações no Youtube.

Porém, dias depois, o acidente foi registrado, interrompendo o sonho dos jovens, que se começaram a trilhar o mesmo caminho por acaso.

“Eu ainda cantava com um amigo da faculdade. Marcamos um show em um bar, mas o menino da minha sala disse que não poderia ir e comentou que o Wesley cantava muito. Liguei para o Wesley e começamos a conversar”, relembra Netto.

Durante o telefonema, Netto pediu para Henrique gravar áudios interpretando a segunda voz de algumas músicas, com o objetivo de descobrir se os timbres das vozes combinariam.

“Eu ouvi, cantei junto e cheguei à conclusão de que ficaria muito bom. A partir desse momento, nós nos juntamos e fizemos nosso primeiro show no dia 21 de janeiro 2015, mesmo ano em que formamos a dupla”, afirma Netto.

À época, quando os dois ainda usavam o nome Zé Neto e Henrique, o repertório era formado por covers de duplas sertanejas que já tinham atingido o sucesso.

A primeira música própria, "Copo de vidro", foi divulgada em novembro de 2016. Um ano depois, os dois lançaram "Saudade vem". Depois, veio "Sofrimento no 12".

Em maio de 2018, a dupla anunciou a gravação do primeiro DVD, mas os clipes e as músicas não chegaram a ser divulgados. Dia depois, os jovens decidiram retirar o "Zé" e se tornaram apenas Netto e Henrique.

Em outubro do mesmo ano, a dupla assinou contrato com a Workshow, um dos maiores escritórios de artistas sertanejos.

“O Henrique era o que mais queria que o processo acontecesse. No começo, sofremos muitas dificuldades, não tínhamos praticamente dinheiro nenhum e tocávamos somente pelo valor da gasolina”, diz Netto.

“Foi uma realização de um sonho assinar com a Workshow. Nosso empresário nos deu a notícia em plena Festa do Peão de Jales (SP). Nós só perguntamos se era sério e fomos a loucura quando ele respondeu que mudaríamos para Goiânia”, completa Netto.

Enquanto estavam dentro do escritório, Netto e Henrique gravaram um novo DVD. Lançado no início de 2020, o álbum, que leva o nome de “Manual do sofrimento – Volume 1”, foi dividido em duas partes.

Na primeira etapa, foram divulgadas seis faixas, incluindo “Saudade Vem” e “Forçar a Barra”, a mais bem sucedida no quesito visualizações.

“Nós temos bastante músicas gravadas. Por enquanto, resolvemos deixá-las paradas, exatamente da forma como estão", revela Netto.

A dupla tinha muitos shows marcados quando Henrique sofreu o acidente e não resistiu aos ferimentos. Todos os eventos marcados em diversas cidades do Brasil foram cancelados.

“Fiquei sem chão. Realmente sem saber o que iria fazer. Dias depois do acidente, veio a pandemia. Acontece que a pandemia me ajudou bastante. Precisei colocar a cabeça no lugar e pensar. Agora estou resolvido, sei o que vou querer”, conta Netto.

O ex-companheiro de palco de Henrique revela que, após pensar durante meses, chegou à conclusão de que continuará cantando em dupla.

“Quero continuar como dupla. Não tenho vontade de cantar sozinho. Nunca subi em um palco sozinho. Se tivesse acontecido comigo, acredito que o Henrique iria querer a mesma coisa. Por isso, tenho essa vontade de continuar como dupla”, disse.

“Ainda não tem nada certo, mas espero achar uma pessoa que tenha as mesmas características do Henrique. Sei que vai ser complicado. Acho que nunca mais vou achar alguém igual a ele. Continuo compondo com amigos meus, escrevendo músicas e esperando o tempo correto”, complementa.

Depois de Henrique morrer, Netto subiu aos palcos apenas uma vez, mas realizou um sonho antigo da dupla: tocar em Fernandópolis, cidade onde tudo começou.

“Fiz um show em uma casa quando houve uma mudança no Plano São Paulo. Foi uma emoção muito grande, porque cantei “Forçar a Barra” e todos cantaram comigo. Subi sozinho no palco, mas no meio do show, subiu o tio do Wesley”, relembra Netto.

Maria do Socorro Pereira de Araújo conta que o filho era um menino realmente especial e que se dedicou muito para atingir o sonho de se tornar músico.

“Palavras não cabem na figura do meu filho. Passamos por muitas dificuldades. Quando estava em Goiânia, ele me ligava e falava sobre como era difícil a nossa vida. Chegava a chorar de tanta emoção e falava que agora podia ter tudo que queria”, revela.

No dia em que o acidente aconteceu, o cantor havia saído da casa da namorada e estava a caminho da casa da família.

“Nós recebemos a notícia na madrugada. Foi um choque muito grande. Nunca imaginei na minha vida passar por um momento igual a esse”, conta Maria.

“Sempre tive a esperança de que meu filho iria vencer. Foi muito difícil receber a notícia da partida dele. Esse ano foi de muita saudade e tristeza para todos nós”, complementa.
Maria conta que ainda se questiona sobre os motivos que fizeram com que Henrique partisse antes da hora.

“Ainda não consigo aceitar. Com ele também foram embora nossas expectativas e nossos sonhos”, diz.

Já José Adilson da Silva relembra que o filho gostava muito de instrumentos, inclusive aprendeu os primeiros acordes com o próprio pai, que é músico.

“Sempre deixei meu filho brincar com os instrumentos. Ele foi crescendo, começou a viajar comigo para fazer show e o encontrei mexendo em uma sanfona. Depois disso, comecei a ensinar as notas. Foi um processo muito natural”, afirma José.

Ver Henrique assinar com um grande escritório, ganhar fama e trilhar o próprio caminho foi um sonho realizado para José, principalmente por conta das dificuldades que a família teve de enfrentar no passado.

“O Wesley começou a trabalhar como servente com 14 ou 15 anos. Um dia vi meu filho todo sujo e disse para ele parar. Não é que eu não queria que ele trabalhasse, mas gostaria que ele estudasse música. Isso posso falar. Incentivei meu filho, porque achava que era um caminho que ele teria futuro”, conta José.

“Foi muito bom vê-lo alcançar o sucesso, mas infelizmente aconteceu o acidente. O legado que meu filho deixou foi o entusiasmo. Ele era um eterno apaixonado pela música”, completa.

Enterro e homenagens
Henrique foi enterrado na manhã do dia 3 de março, no Cemitério Municipal de Santa Salete (SP), sob forte comoção.

Durante a cerimônia, um amigo do cantor tocou violão, enquanto amigos e familiares, emocionados, cantaram a música "Saudade Vem".

Produtores e cantores também usaram as redes sociais para lamentar a morte precoce de Henrique.

"O Henrique era um menino nota mil. Ele sabia tudo que queria fazer. Era amigo para qualquer hora. Eu o admirava muito, porque sorria o dia todo. Mesmo em dificuldades, ele sempre estava alegre", diz Netto.

"Eu não consigo acreditar. Vejo tanta gente sobrevivendo a acidentes mais feios. Não fico me perguntando o motivo disso ter acontecido. Deus sabe o que faz. Mas sinto muito a falta dele", complementa.


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