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Hospitais da região completam 30 dias com ocupação de leitos de UTI Covid-19 acima dos 90%



Há 30 dias, as unidades de terapia intensiva do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Rio Preto estão com mais de 90% de ocupação. A área abrange 102 municípios, muitos dos quais correram contra o tempo para montar leitos de UTI às pressas para não deixar os pacientes desassistidos. Muitas vezes, no entanto, eles não dispõem da estrutura completa, com equipamentos de ponta e auxiliares importantes, como as máquinas de hemodiálise.

Hoje são 631 leitos de alta complexidade voltados exclusivamente à Covid, mais do que em qualquer momento da pandemia. De acordo com Jorge Fares, diretor-executivo da Funfarme, que abrange o Hospital de Base, o custo de montagem de um leito bem equipado tem variado de R$ 180 mil a R$ 200 mil. Um dos primeiros pontos que devem ser observados ao estruturar uma ala do tipo é o espaço físico, que deve respeitar um distanciamento entre as camas, minimizando os riscos de infecções, um dos grandes problemas hospitalares.

A manutenção diária de um leito de UTI pode ultrapassar os R$ 2 mil - multiplicando-se pela quantidade de pacientes internados na região (578 nesta quinta-feira), chega-se a um valor diário de R$ 1,1 milhão, aproximadamente. Multiplicando-se por 30 dias, tempo em que a região está com ocupação acima dos 90%, são R$ 34,6 milhões.

A gravidade em que os pacientes chegam é grande, e a maioria dos que vão para a UTI acabam precisando de intubação. Segundo Paulo Nogueira, coordenador da UTI da Beneficência Portuguesa, um estudo feito nos Estados Unidos com 222 pessoas apontou que 77,5% dos que precisaram de respiração artificial evoluíram a óbito. "Um número absurdo. Infelizmente, a quase totalidade dos pacientes na UTI são intubados, principalmente agora que o número de casos aumentou muito e as vagas de UTI ficaram escassas. Assim, os pacientes chegam à UTI já em estado grave e necessitando ventilação mecânica", pontua.

Também são necessários, na UTI e também na enfermaria, os equipamentos de ventilação não invasiva para evitar a piora do paciente e que ele precise de uma UTI ou um respirador. Também faz parte da seleção a bomba de infusão, para que os medicamentos sejam dosados corretamente - alguns deles precisam de uma quantidade mínima para não colocar ainda mais em risco a vida do paciente, e essa dosagem só é possível com esse dispositivo.

Medicamentos, aliás, são um dos principais problemas enfrentados pelos hospitais atualmente. Até o momento eles não faltaram para os pacientes Covid, mas cirurgias eletivas têm sido canceladas e a Prefeitura de Rio Preto suspendeu até castração de animais para poupar sedativos, relaxantes musculares e analgésicos. Suzana Lobo, responsável pela UTI do Hospital de Base e diretora da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, diz que têm sido utilizados medicamentos alternativos, mas isso também tem um limite. "Se não tiver remédio, o paciente agita e tira o tubo. Pode até morrer sem um remédio. Não tem jeito de manter em ventilação mecânica sem os remédios", explica. "O limite de não ter nada para fazer está próximo e a fila é enorme."

Não apenas os equipamentos são importantes. Mais essencial que isso, é a equipe, que precisa ser treinada. "Tem que ter profissionais muito bem qualificados, não é qualquer médico que vai mexer com um respirador desse. Você não vai dar uma Ferrari na mão de qualquer motorista. Exige treinamento", reforça Fares.

Grande parte dos profissionais existentes foi absorvida pelo aumento na demanda e a maioria está exausta. É necessário um grande leque de colaboradores: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, nutricionistas, auxiliares de limpeza e recepcionistas. Cada médico e fisioterapeuta ficam com dez pacientes; cada enfermeiro, com cinco. É um técnico de enfermagem para cada dois ou três pacientes. Cada psicólogo e nutricionista ficam com 20 pacientes.

Outra questão é o tempo de permanência dos pacientes em UTI. Segundo Danilo Chamas, coordenador da UTI do Santo Antônio, o tempo aumentou, o que prejudica a rotatividade nos leitos e coloca tanta gente em espera - nesta quinta-feira, 109 pessoas aguardavam um leito de UTI no DRS. Agora, cada pessoa fica em média três semanas em um leito de UTI, mas não é raro ser mais tempo.

A corrida na montagem de leitos foi necessária porque os pacientes estão mais graves. Uma explicação para isso seriam as novas variantes, oriundas de Manaus e do Rio de Janeiro. "Em março, pico da nossa segunda onda, vimos mais que o dobro de mortalidade se comparado a junho de 2020, pico da gravidade da primeira onda", diz Paulo Nogueira. "Temos notado que os pacientes evoluem com maior rapidez e necessitam de UTI mais precocemente", diz.

Os pacientes também estão mais jovens. Caso da gerente de negócios Juliana dos Santos, de 36 anos, moradora de José Bonifácio, que ficou internada por quase um mês, mais da metade dos dias em UTI e 12 intubada. Ela praticava regularmente exercícios físicos e não tem nenhuma comorbidade. O que começou como um quadro leve de Covid evoluiu rapidamente para uma piora e baixa saturação, inclusive com Juliana tendo confusão mental devido à baixa taxa de oxigênio no sangue. A maior preocupação dela não era a própria saúde, mas a do pequeno Yuri, que deve nascer entre maio e junho. Em alguns momentos, duvidou que a equipe estivesse falando a verdade - que o menino estava bem.

"Eles relataram que mesmo quando eu estava intubada, inconsciente, toda vez que eles perguntavam do meu filho eu chorava, caía lágrima do meu olho", conta Juliana. "Eu lembro de flashes, eles falavam que eu tinha que melhorar, que o bebê estava bem. A lembrança mais forte que eu tenho é de uma enfermeira que entrou no quarto e falou que foi um milagre eu e o bebê estarmos bem."

O médico Danilo Chamas, intensivista da UTI do Santo Antônio, diz que há uma falsa ideia de que os jovens não vão desenvolver a doença grave, o que não é verdade. "O tratamento é difícil, a doença é difícil, você sente muita falta de ar, é angustiante, como se você estivesse afogando", desabafa Juliana.

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